Parar de fumar é uma das melhores decisões que alguém pode tomar para a saúde e essa afirmação vai muito além dos pulmões. Como médica coloproctologista, posso afirmar: seu intestino também agradece quando você abandona o cigarro.
Embora os efeitos nocivos do fumo sobre o sistema respiratório e cardiovascular sejam amplamente conhecidos, muitos pacientes se surpreendem ao saber que o cigarro também afeta profundamente o trato gastrointestinal.
Neste texto, vamos entender como o tabagismo impacta a saúde intestinal e por que parar de fumar pode trazer um verdadeiro alívio para o seu intestino.
Como o cigarro prejudica o intestino?
A fumaça do cigarro contém mais de 7.000 substâncias químicas, muitas delas tóxicas e cancerígenas. Esses compostos não afetam apenas os pulmões e o coração, mas também interferem na digestão, no funcionamento do intestino e até mesmo na composição da microbiota intestinal.
Veja alguns dos principais efeitos do tabagismo sobre o intestino:
- Alteração da motilidade intestinal
Fumar pode acelerar ou retardar o trânsito intestinal. Isso significa que o cigarro pode causar desde episódios de diarreia até quadros de constipação crônica. O efeito depende de fatores individuais e da quantidade de cigarros fumados, mas a desregulação da motilidade é uma consequência frequente em fumantes.
- Desequilíbrio da microbiota intestinal
A microbiota intestinal — também conhecida como flora intestinal — é formada por trilhões de bactérias que desempenham papéis fundamentais na digestão, na imunidade e na produção de vitaminas. Estudos mostram que o cigarro altera o equilíbrio dessas bactérias, favorecendo o crescimento de microrganismos prejudiciais e contribuindo para inflamações intestinais.
- Aumento do risco de doenças inflamatórias intestinais (DII)
O tabagismo é um fator de risco bem estabelecido para doenças como a doença de Crohn. Embora o cigarro pareça ter um efeito oposto na retocolite ulcerativa — com fumantes tendo menor incidência —, o impacto negativo do tabaco em outras áreas da saúde faz com que esse “aparente benefício” não justifique o uso do cigarro em hipótese alguma.
- Maior risco de câncer colorretal
Fumar aumenta o risco de desenvolvimento de pólipos intestinais, lesões que podem evoluir para câncer colorretal. Esse risco é ainda maior entre pessoas que fumam há muitos anos ou que consomem grandes quantidades de cigarros diariamente.
O que muda no intestino quando você para de fumar?
A boa notícia é que o intestino também “respira aliviado” com a decisão de parar de fumar. Os benefícios aparecem progressivamente e podem ser sentidos em diversos aspectos:
Melhora na regularidade intestinal
Após a interrupção do tabagismo, o sistema digestivo tende a recuperar seu ritmo natural. É comum que ex-fumantes passem por um período de adaptação, com eventuais alterações no funcionamento do intestino. Porém, com o tempo, a tendência é que o trânsito intestinal se normalize.
Recuperação da microbiota
Estudos mostram que a microbiota de ex-fumantes começa a se reequilibrar gradualmente após a cessação do cigarro. Com o passar dos dias, as populações bacterianas voltam a se parecer com as de pessoas que nunca fumaram, o que fortalece o sistema imunológico e melhora a digestão.
Redução da inflamação intestinal
Sem a presença constante das substâncias tóxicas do cigarro, o intestino sofre menos agressões e inflamações. Isso é particularmente importante para pessoas com predisposição ou diagnóstico de doenças inflamatórias intestinais, que podem experimentar uma redução nos sintomas ou na frequência de crises.
Diminuição do risco de câncer colorretal
Embora o risco de câncer nunca zere completamente, ele diminui progressivamente com o passar dos anos após a cessação do tabagismo. Em cerca de 10 anos, o risco de um ex-fumante pode se aproximar ao de alguém que nunca fumou.
O intestino e o efeito dominó do cigarro
Muitas vezes, o cigarro afeta o intestino indiretamente. Por exemplo, o fumo compromete a circulação sanguínea e dificulta a oxigenação dos tecidos, inclusive os intestinais. Além disso, afeta a absorção de nutrientes, prejudica o paladar e influencia negativamente os hábitos alimentares, o que também acaba interferindo no funcionamento intestinal.
Outro fator importante é o estresse oxidativo causado pelo cigarro, que acelera o envelhecimento das células, aumenta a inflamação sistêmica e prejudica a regeneração dos tecidos intestinais. Parar de fumar ajuda a reduzir esse processo, promovendo um ambiente mais saudável para o sistema digestivo como um todo.
E os sintomas que surgem ao parar de fumar?
É verdade que, nas primeiras semanas sem cigarro, algumas pessoas podem perceber mudanças no intestino, como constipação leve ou inchaço abdominal. Isso acontece porque a nicotina tem um efeito estimulante sobre o intestino — e o corpo precisa de um tempo para se reajustar.
Esses sintomas são passageiros e podem ser amenizados com hábitos saudáveis, como:
- Ingerir mais fibras (frutas, legumes, cereais integrais);
- Beber bastante água;
- Praticar atividade física regularmente;
- Manter horários regulares para as refeições e idas ao banheiro.
Cuidar do intestino é cuidar da vida
A saúde intestinal está diretamente ligada ao bem-estar físico e emocional. Quando o intestino funciona bem, o corpo absorve melhor os nutrientes, a imunidade melhora, e até o humor é beneficiado. Parar de fumar é um passo importante nessa direção.
Como coloproctologista, vejo de perto os efeitos positivos da cessação do tabagismo nos pacientes. Os exames ficam mais limpos, as queixas intestinais diminuem e os resultados dos tratamentos melhoram.
Se você está pensando em largar o cigarro, saiba que não está sozinho. Profissionais da saúde, como coloproctologistas, clínicos, nutricionistas e psicólogos, podem ajudar nesse processo.
Seu intestino merece esse alívio e você também.